Em 1919, a Primeira Guerra Mundial ocasionou quedas na exportação do café e a interrupção dos empréstimos dos banqueiros ingleses (MORANGUEIRA, 2006, p. 82). A partir disso, em 1923, Jorge Street teve de vender a Companhia Nacional de Tecidos de Juta para a família Scarpa, que inclusive alterou o nome da Maria Zélia para Vila Scarpa (FRANGELLO, ALMEIDA, 2018, p. 23). Vale a ressalva que o grupo Scarpa se preocupou em organizar uma publicação sobre a companhia e a vila, por meio de fotografias e textos.
A vila começou a ser construída em 1911 e a sua inauguração ocorreu em maio de 1917, mas de acordo com Morangueira (2006, p. 78), ela foi entregue em etapas. Inicialmente foram entregues 200 habitações com seis diferentes tipologias para abrigar 2.100 funcionários que trabalhavam na fábrica. Em 1918, foram entregues as escolas de meninos e meninas; em 1919 a creche, o jardim de infância, a capela e os armazéns e, apenas em 1922, a vila estava completa com todos os equipamentos construídos.

Capa da publicação sobre a Vila Scarpa, do Acervo da Associação Cultural Vila Maria Zélia (ACVMZ). Fonte: Fonte: Livro 100 anos da Vila Maria Zélia - Autores: FRANGELLO e ALMEIDA
Após pouco tempo, e em dívidas, a família Scarpa vende a vila para o grupo Guinle que restituiu o nome original em homenagem a família Street. Em 1930, a família Guinle passa a dever muitos impostos ao governo federal, sendo obrigada a passar a vila para um novo administrador, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). Entretanto, os moradores puderam continuar a residir no local.
Com a compra das residências, os novos proprietários iniciam várias alterações e adaptações, tanto internas quanto externas, descaracterizando em grande parte o que havia restado da vila. No contexto da década de 1960, banheiros externos, por exemplo, já não faziam sentido. Algumas alterações, no entanto mostram um certo retrocesso: as antigas e amplas janelas de madeira passam a ser trocadas por caixilhos de menor tamanho, mais acessíveis, mas com menos capacidade de ventilação e iluminação. Outra alteração foi a sofrida pela rede elétrica, que ao ser modernizada deixa de ser subterrânea, e torna-se aérea (FRANGELLO, ALMEIDA, 2018, p. 26).

Retificação do Rio Tietê. Fonte: <https://alotatuape.com.br/wp-content/uploads/2017/05/hist-sp-mappas1.jpg >
Por fim, para evitar sua total descaracterização ou mesmo sua perda, em 09 de dezembro de 1972, a vila foi tombada pelos órgãos de preservação estadual (CONDEPHAAT) e municipal (CONPRESP) em três níveis: traçado urbano e a vegetação de porte arbóreo, o conjunto das casas e os edifícios comunitários existentes (OLIVEIRA, 2008, p. 60).
O CONDEPHAAT a tomba com bem de interesse histórico, cultural, arquitetônico e social. Já o CONPRESP acrescenta também uma antiga área da fábrica Maria Zélia e determina níveis de proteção para cada residência de acordo com as modificações apresentadas:
“Artigo 2º - Os bens tombados ficam classificados conforme os seguintes níveis de proteção:
I - Nível de Proteção 1 (NP-1): corresponde a bens de grande interesse histórico, arquitetônico ou paisagístico, determinando sua proteção integral;
I - Nível de Proteção 2 (NP-2): corresponde a bens de interesse histórico, arquitetônico ou paisagístico, determinando a proteção de seus elementos arquitetônicos externos;
III - Nível de Proteção 3 (NP-3): corresponde a bens de grande interesse ambiental, que sofreram modificações em suas características arquitetônicas originais mas mantém, ainda, elementos ornamentais remanescentes nas fachadas e coberturas, que deverão ser preservados;
IV - Nível da Área Envoltória 4 (NP-4): corresponde a restrição de altura, recuo e ambiência.” (FRANGELLO, ALMEIDA, 2018, p. 163 e 164)

Recorte do conjunto da vila e da fábrica em foto de 2004. Fonte: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>.
Recorte do conjunto da vila e da fábrica no mapa de 1930. Fonte: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>.
Recorte do conjunto da vila e da fábrica no mapa de 1954. Fonte: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx>.

Mapa de tombamento municipal do CONPRESP da resolução 39/92 em conjunto com o tombamento estadual do CONDEPHAAT - Resolução SC-43 de 18/12/1992. Fonte: Fonte: Livro 100 anos da Vila Maria Zélia - Autores: FRANGELLO e ALMEIDA

Mapa de tombamento Municipal do CONPRESP da área antiga da fábrica e vila Maria Zélia - Resolução 39/92. Fonte: Fonte: Livro 100 anos da Vila Maria Zélia - Autores: FRANGELLO e ALMEIDA